Alice acabara de completar cinquenta anos, quando se deu conta de que não se tinha apercebido da passagem do tempo. Tinha uma família, amigos, um trabalho extenuante, filhos, um marido e resquícios de amores perdidos. Perdida nas dimensões absurdas do seu trabalho no tribunal, procura um sentido à sua vida e ao que faz. Um acontecimento trágico vem agudizar as suas inquietações sobre a ética das relações humanas nos meandros de um sistema judicial kafkiano.
Esse espaço judiciário também é percorrido por Ana Francisca, uma prestigiada advogada, para quem o tribunal e o mundo da justiça é uma arena da qual mais vale sair vencedor do que vencido; por Salvador, um psicólogo atormentado pelo amor excessivo da mãe que o privou da presença do pai, que reencontra na compulsão pela corrida; por Julieta, avó do jovem Dário, que se sente ameaçada pela burocracia, por procedimentos e intervenções institucionais que só reavivam as perdas sofridas; e por Baltazar, um juiz sem ambições, que exerce de forma crítica a sua função, desaprovando funcionamentos que escamoteiam o exercício da justiça e as falhas do sistema.
Todas estas personagens vulneráveis, imperfeitas, distintas na procura de sentido da sua existência, cruzam-se, perdem-se e encontram-se nos labirintos de um tribunal.
Nestes encontros e desencontros de gente imperfeita com um sistema imperfeito, o tempo escasseia, delonga-se e desperdiça-se, irremediavelmente, nos caminhos tortuosos das suas contradições e na finitude dos dias imperfeitos.